quinta-feira, 2 de março de 2017

Invisible

 Boas!

 Hoje partilho convosco um facto de que me apercebi e que ocorre muito a quem trabalha em retalho - o dom da invisibilidade - mas, atenção, para aqueles que pensam que basta ingressar na profissão e o feito é logo adquirido, desenganem-se.
 Isto não é um dom que consegues através do auto-controlo e meditação. Este dom, é-nos oferecido por alguns clientes beneméritos, que, em posse de um poder superior te deixam usufruir dessa maravilha da física que é desmaterializar-te até á última molécula.


 A última vez que fui visitado por um destes seres celestes, não foi á muito, tenho, por isso, ainda fresca na memória o privilégio que foi estar na sua companhia.
 Foi na parte da manhã, estava tudo muito sossegado, quando uma senhora aí dos seus cinquenta e picos entra e se dirige á parte reservada ao seu género da loja.
 Esperei uns momentos, para não dar a ideia de que estava desesperadinho por uma venda e dirigi-me a ela. " Bom dia!" disse-lhe com um sorriso. Esperei aí uns segundos e como não obtive resposta, pensei, "Não me ouviu, vou repetir" - "Bom dia! Posso ajudar?" - Deixo passar mais algum tempo, minutos, diga-se e... nada... Até aqui ainda não me tinha apercebido da metamorfose e pensei que podia ser uma turista que não percebesse Português e por isso, expressei essa ideia num tom um pouco mais alto - "Português?", (sim porque o pessoal tem esta mania estúpida de falar mais alto com outra pessoa que não tenha a mesma lingua na esperaça de ser entendido) - népia, nem um som.
 Alto, aqui há gato! Será que é surda? Eu não posso simplesmente entrar em convulsões comunicativas e esperar uma reação, deve haver aqui mais qualquer coisa! 
 Só para o caso de não estar a fazer ainda mais figura de parvo, acenei á colega da frente que, embora olhasse na minha direção, não esboçou a mais pálida resposta.
 Fez-se luz! Estou invisível, só pode ! Deixa-me tentar outra vez - "Se precisar de ajuda disponha!" - Nada!  Sou mesmo transparente! E a prova veio que, quando saiu da loja, a colega da frente cumprimentou-me!
 Wow  ! E é que não senti nada! Nadinha! Nem o menor pingo de consideração!

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